Ibovespa registra maior desconto e ações em baixa desde 2008

30/11/2021
caneta aponta para gráfico da bolsa de valores que sugere queda

Há 13 anos, o Ibovespa, principal índice acionário da Bolsa de Valores brasileira, não ficava tão barato quanto está hoje.

Com queda acumulada de 13% em 2021, o Ibovespa não opera na menor pontuação dos últimos tempos — pelo contrário, só em 2019 o índice cruzou a faixa dos 100 mil pela primeira vez — só que a pontuação é apenas uma medida do nível dos preços das ações, apenas uma parte da história.

Os preços dos ativos na Bolsa são uma referência relativa. Saber se estão altos ou baixos depende de uma série de comparações, como a inflação, o volume de lucro das empresas e o que está acontecendo no resto do mundo, somente quando todos esses ingredientes entram na receita é que se tem dimensão do quanto a Bolsa local está barata ou cara em relação às outras ou para quanto realmente vale.

Um levantamento feito pela XP, comparando a pontuação do Ibovespa às perspectivas de geração de lucro das empresas listadas, mostra que o desconto atual do índice é o maior desde 2008, ano da grande crise financeira que abalou as Bolsas do mundo inteiro e a última vez em que as ações brasileiras tiveram quedas tão acentuadas quanto as registradas no início da pandemia.

Trata-se do indicador chamado Preço/Lucro - ou apenas P/L - que literalmente divide uma coisa pela outra e verifica o preço das ações no mercado em relação ao quanto as empresas geram de lucros. Quanto menor o preço na Bolsa em proporção à capacidade daquela empresa de entregar resultados, mais subvalorizada está a cotação.

Esta é uma das medidas mais usadas pelos analistas do mercado financeiro para verificar se um ativo está muito abaixo ou muito acima do que seria o seu preço justo, no caso do Ibovespa como um todo, o cálculo é feito usando a pontuação em relação aos lucros de todas as empresas que fazem parte do índice. O levantamento usado pela XP leva em consideração as projeções de mercado para o resultado das empresas nos próximos 12 meses.

Menor desde 2008
Em outubro, o preço do Ibovespa foi, em média, o equivalente a 7,9 vezes o lucro projetado das empresas. Na prática, é como dizer que o investidor demoraria 7,9 anos, na média, para retomar o valor aplicado caso os lucros das empresas se mantivessem no mesmo patamar e fossem totalmente redistribuídos a cada ano.

E isso é muito ou é pouco? Em relação ao histórico do próprio Ibovespa é muito pouco.

A única vez desde, pelo menos, 2006 em que esse múltiplo ficou abaixo de 8 foi entre outubro e dezembro de 2008, quando a conta flutuou entre 6,3 e 7,2. Em outubro daquele ano, destroçado pela crise deflagrada após o estouro de uma gigante crise de crédito nos Estados Unidos, o Ibovespa despencou à mínima de 29 mil pontos.

Pra se ter uma ideia, na Bolsa de Nova York, o índice de referência S&P está valendo atualmente 22 vezes o valor projetado do lucro das empresas, para uma média histórica que é de 16 vezes, de acordo com a estrategista de ações da XP, Jennie Li. "Quer dizer, lá está muito caro" diz.

"Este é um dado para o qual o mercado olha muito para ajudar a encontrar oportunidades de compra: compre quando estiver barato", explica Jennie.

De fato, a Bolsa brasileira está barata, mas isso também reflete muito a incerteza no mercado doméstico e os preços podem continuar a ser corrigidos. Não é bem assim, 'tá barato, vamos comprar'. O momento exige muita cautela.

O problema é que o valor das empresas na Bolsa caiu muito rápido nos últimos meses, o que acabou derrubando o múltiplo entre preço e lucro. “O preço das nossas ações foi muito corrigido por conta de um cenário macroeconômico mais complicador, risco político e fiscal”, diz Jennie.

Na visão da XP, conta a analista, o preço justo do Ibovespa hoje, levando em consideração apenas a consistência dos resultados das empresas, seria em torno de 120 a 125 mil pontos – que é a projeção da casa para a Bolsa até meados do ano que vem.

"Uma pontuação perto dos 123 mil pontos refletiria melhor um pouco dos lucros que esperamos das empresas hoje e deixaria a Bolsa um pouco mais próxima da média, mas é difícil imaginar uma recuperação ainda em 2021", finaliza.

Clique aqui e veja a reportagem completa e original no site da CNN Brasil.

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Foto: Getty Images

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