Brasil caminha para cenário de estagflação; entenda o que é

Os preços sobem e a vida não melhora. Essa combinação de percepções atingiu com mais força a vida do brasileiro nos últimos meses e pode ficar pior. Isso porque falta pouco para o país reviver um quadro de estagflação, cenário que se configura quando dois monstros da economia se juntam: a inflação alta com o baixo crescimento.

O IPCA, índice oficial de preços - pressionado sobretudo pelos combustíveis e pela energia elétrica - já encostou nos dois dígitos em 12 meses enquanto as previsões para o avanço do PIB estão perto do zero. Um cenário como esse penaliza ainda mais a classe trabalhadora pobre, já que o desemprego sobe em meio a uma alta acentuada no custo de vida.

Mas apesar da atividade brasileira patinar em meio à alta dos preços, o país ainda não pode ser enquadrado num cenário de estagflação, o que pode mudar, em breve, caso a situação fiscal se agrave, conforme explica o economista Alexandre Espirito Santo.

E como chegamos até aqui?
Atualmente, a situação se complica porque a ação do Banco Central sobre a inflação é limitada, já que não é a demanda aquecida que pressiona os preços.

A crise hídrica é quem agrava a inflação hoje — porque aumenta muito o custo da geração de energia – e a alta no preço das commodities, que acabam deixando o custo dos produtores mais alto e, consequentemente, afetam o valor do produto final.

E se por um lado a Selic mais alta reduz a quantidade de dinheiro na economia para puxar os preços para baixo, de outro, ela freia o ritmo da atividade, atualmente já prejudicado pelos impactos da pandemia.

Sobre o câmbio, tradicionalmente, ele tende a se desvalorizar com os juros mais altos — refletindo a melhora no retorno dos investidores estrangeiros e a consequente entrada de dólares no país –, só que a moeda tem sofrido o efeito inverso pela instabilidade política e econômica. E a taxa cambial afeta diretamente os preços de toda a economia.

A deterioração do cenário fiscal é resultado de propostas de reformas desidratadas mais a tramitação atrasada. Só que a instabilidade macroeconômica vem afastando os investimentos e o mercado deixou de acreditar que as reformas estruturantes, consideradas hoje pelo Legislativo e pelo Executivo, solucionem esse cenário.

Outro empecilho para o investimento estrangeiro é a maneira como o país vem lidando com a questão ambiental. “Esse é um desafio crescente e está mal resolvido, já que estamos nos afastando das boas práticas de governança ambiental e social, que viraram esteio de investimento das grandes multinacionais”, explica o economista Sergio Vale.

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Foto: hxdyl / Getty Images