Como saber se uma ação está cara ou barata?

14/07/2020

Em momentos de crise econômica, como o que vivemos atualmente em função da pandemia do novo coronavírus, fica ainda mais difícil que o normal para os investidores pessoa física - que costumam ter menos informações sobre o mercado do que as instituições financeiras - interpretarem os movimentos das ações e decidirem onde alocar seus recursos na Bolsa de Valores.

Isso acontece porque quando os níveis de incerteza aumentam, os preços ficam ainda mais voláteis. Por exemplo, no caso da pandemia, se por um lado ela puxou a Bolsa para baixo porque mexeu com as receitas das empresas, com a produtividade e até colocou em xeque a permanência de algumas delas na Bolsa, por outro, houve uma migração muito grande da Renda Fixa para a Renda Variável causada pela queda nos juros, o que acaba inflando o preço das ações.

Para prever estes movimentos, o mercado financeiro dispõe de várias ferramentas. A partir delas, é possível fazer um estudo aprofundado sobre a saúde financeira de cada companhia, compará-las com outras do mesmo setor e, finalmente, decidir o que fazer com os papéis: comprar, vender ou nenhum dos dois. A esse processo, dá-se o nome de valuation ou avaliação de empresas.

Henrique Esteter, analista de investimentos, explica que os bancos produzem relatórios sobre as empresas para os seus clientes, normalmente os grandes fundos. Mas e o investidor comum, que não tem acesso a esses dados? Segundo Esteter, o mais recomendado é acompanhar e se basear nas indicações dos especialistas, como analistas, planejadores e agentes autônomos, mas ainda assim, é possível criar autonomia utilizando as ferramentas certas.

Para isso, é preciso entender alguns conceitos do valuation, principalmente a avaliação por múltiplos. A partir de dados públicos disponibilizados pelas próprias companhias, é possível criar bases de comparação entre empresas do mesmo setor e gerar mais elementos de reflexão antes do processo decisório.

Estas informações constam nos resultados das empresas, que são divulgados em sites de relação com os investidores (RI) - todas as empresas listadas em Bolsa são obrigadas a divulgar e manter esses dados atualizados. Para encontrar esses sites, é só pesquisar RI + o nome da empresa, o da B3, por exemplo, é ri.b3.com.br. Aí é só procurar por informações financeiras e entrar no trimestre desejado.

Avaliação por múltiplos
Dentro do conceito de múltiplos de mercado existem três métodos de avaliação mais comuns: o P/L, o P/VPA e o EV/Ebitda. Todos eles são bastante simples e por isso mesmo são recomendados utilizar junto com outras ferramentas de análise técnica.

P/L - Preço da ação dividido pelo lucro por ação
O P/L é utilizado para estimar quanto vale uma ação. Ou seja, quanto maior o resultado do P/L, mais o investidor vai pagar pela ação. Caso o resultado de certa empresa tenha um valor muito acima de outra do mesmo setor, é possível fazer duas leituras: ou a ação está cara ou o mercado está com expectativas bem altas em relação a esses papéis.

Um bom exemplo disso são as empresas de tecnologia. Por vezes, elas têm o valor elevado, mas possuem uma expectativa embutida nos preços. “Em 2010, ninguém imaginava que a Magalu, além das lojas, teria um e-commerce forte e um marketplace para outras empresas venderem produtos no seu site. Com isso, as projeções vão se alterando e os cálculos ficam defasados”, explica Henrique Esteter.

P/VPA - Preço da ação dividido pelo valor patrimonial da ação (cálculo: patrimônio líquido da empresa dividido pelo número de ações dospiníveis)
O P/VPA estabelece uma relação entre o preço da ação e o valor patrimonial proporcional da empresa. Na prática, isso quer dizer que ele estabelece quanto os investidores estão pagando pelo patrimônio líquido da companhia.

Em teoria, para que uma ação esteja negociada em linha com o seu valor patrimonial, o resultado do cálculo deve ser 1 ou algo próximo disso. Quando o valor está muito abaixo de 1, pode representar uma subvalorização daquele papel, o que pode ser uma oportunidade de investimento, e o contrário também acontece. Se o número for muito superior a 1, pode demonstrar uma sobrevalorização.

EV/EBITDA - Valor da firma (cálculo: valor de mercado + valor das dívidas - caixa) dividido pela geração de caixa da companhia
O EV é composto pelo valor de mercado da empresa + o valor das dívidas menos o caixa. Já o Ebitda, representa o lucro desta mesma companhia antes dos juros, impostos, depreciação e amortização. Quando divididos, indicam quanto tempo levaria para que o lucro operacional de uma empresa fosse suficiente para pagar o investimento feito no momento da compra.

"A linha de raciocínio é parecida com a do P/L, quanto menor o resultado, maior a chance daquela empresa estar subvalorizada. Com isso, é possível comparar empresas de setores e até de países diferentes. A modalidade também é muito utilizada em negócios de fusões e aquisições, mas é preciso ter cuidado porque o indicador ignora fatores importantes como juros e tributos", explica o analista de Renda Variável Igor Cavaca.

CLIQUE AQUI e confira a reportagem completa no site da CNN Brasil.

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Foto: Pexels

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