Treasuries: entenda o que são e porque influenciam tanto o mercado global

24/03/2021
fachada do Federal Reserve, o Banco Central Americano, com duas bandeiras dos EUA

Quem acompanha as notícias sobre o mercado financeiro tem visto nos últimos dias, com grande frequência, que as oscilações dos treasuries americanos - como são chamados os papéis do Tesouro nos EUA - vêm afetando a performance de ativos no mundo inteiro e preocupando gestores, além do Federal Reserve, o Banco Central dos EUA.

Isso ocorre por uma série de fatores, já que a importância desses títulos vai muito além dos prêmios que o governo americano paga aos seus investidores. "As taxas da modalidade servem de referência até para contratos de crédito e financiamento imobiliário", explica Adriano Cantreva, sócio da Portofino Multi Family Office.

O aspecto mais contundente desses papéis é a segurança. Os costumam ser o tipo de investimento mais seguro porque o governo é o melhor pagador que tem, eles só não serão pagos se o país inteiro quebrar, agora imagine isso na maior economia de mundo? Além da capacidade financeira exuberante, os EUA possuem pouquíssimas oscilações de juros e inflação.

Nessa linha, existem três tipos de treasuries:
1) Bills, de curto prazo, com duração de até um ano;
2) Notes, de até 10 anos, a principal referência do mercado;
3) Bonds, com prazos de 20 a 30 anos, que podem servir como termômetro para a curva longa de juros.

E por que os Bonds têm apresentado uma procura altíssima? Segundo Guilherme Zanin, estrategista da Avenue Securities, atualmente, o BC americano está mais aberto aos gastos (vide os sucessivos pacotes de estímulos à economia), pois busca uma retomada no crescimento do país e, consequentemente, uma maior geração de empregos no pós-crise.

Tanto isso é verdade que a meta de inflação estabelecida para o país é de 2%, superior aos cerca de 1,6% registrados atualmente.

O problema é que, enquanto o órgão garante que não deve alterar o juro básico do país até 2023, a curva longa está "empinando", juntamente com a expectativa de inflação. Mais dinheiro circulando, mais consumo e pressão sobre os preços praticados, a inflação acaba subindo. "Os juros de longo prazo saltaram de 0,6% para 1,6% em pouco tempo, o que assustou o mercado", diz Zanin. "Os investidores começaram a temer, então, um aumento na inflação e a apostar que haverá reajuste na taxa de juros mais rápido que o prometido pelo Fed, fazendo com que a Renda Fixa se torne mais atrativa". Daí a procura pelo produto.

Esta é uma correspondência negativa e um dos princípios básicos do mercado. Quanto mais o juro cai, melhor ficam os ativos de Renda Variável, já que o investidor busca alternativas para rentabilizar o seu capital. Do lado oposto, quando os juros sobem é natural que o mercado fuja dos riscos e se abrigue em títulos mais previsíveis.

Ou seja, o que está acontecendo é uma realocação de recursos para a segurança, que afeta uma série de outros ativos. Na Bolsa americana, por exemplo, é possível ver a derrocada do setor de tecnologia, o grande vencedor de 2020. E mais profundamente, o movimento afeta até os mercados emergentes, como o brasileiro.

Cantreva explica que, com opções rentáveis em uma economia mais segura, é natural que os investidores permaneçam ali. E isso pode afetar, mesmo que de maneira indireta, o câmbio dos mercados menos desenvolvidos, que acabam perdendo a atratividade.

"Além da oferta e da demanda, a taxa de juros do país afeta o câmbio da sua moeda porque determina a sua atratividade", diz. "Quando a Selic estava em dois dígitos e o Fed Rate era zero, o investidor americano aceitava comprar real pra ganhar em cima dessa diferença, o chamado 'carry trade'. Hoje não temos mais isso", completa.

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Foto: Tupungato / Getty Images

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