Inflação, combustíveis, Bolsa, exportações: quais os impactos da crise na Ucrânia para a economia brasileira?

23/02/2022
imagem mostra alguns soldados armados correndo num campo coberto de gelo

Os juros altos, a inflação em dois dígitos e o fraco crescimento econômico já vinham bastante desafiadores para a economia brasileira este ano, mas o conflito na fronteira da Ucrânia pode piorar ainda mais o cenário.

Sempre que há um conflito entre nações poderosas, há risco de aumento da inflação, por causa da redução na oferta de produtos, que pressiona os preços. Pode ocorrer também um baque no crescimento por conta do aumento dos riscos, que tende a diminuir os investimentos, derrubar os ganhos das empresas e impactar suas ações.

Como se não bastasse tudo isso, o conflito entre Rússia e Ucrânia acontece no momento em que a economia global ainda se recupera dos efeitos da pandemia, que sobrecarregou as contas e impactou os preços da energia, dos combustíveis e da alimentação.

Quais os possíveis efeitos para o Brasil?
A situação por aqui se traduz em mais pressão sobre a inflação em um momento de índices já nas alturas. A barreira de proteção do país, no momento, é a queda do dólar. Com a valorização recente do real, itens importantes - como alimentos e combustíveis - estão relativamente controlados enquanto a tensão se desenrola na fronteira ucraniana.

Mas há dois problemas: a alta dos juros freia ainda mais a perspectiva de crescimento econômico e uma aversão ao risco tende a trazer mais impacto às economias emergentes.

“O Brasil tem uma taxa de investimento historicamente muito baixa e deve piorar com esse cenário global. Evidentemente, impacta o crescimento econômico, a geração de emprego e renda”, afirma Wagner Parente, CEO da BMJ Consultores Associados.

Combustíveis e inflação
A tensão na fronteira ucraniana renova as preocupações com os preços das commodities, em especial o petróleo. A valorização do barril do tipo Brent desde o início da pandemia foi um responsáveis pela inflação no Brasil por causa do efeito nos preços da gasolina e do diesel.

Durante todo o ano de 2021, os combustíveis sofreram com o aumento nos preços do petróleo no mercado internacional. O preço do barril de petróleo teve média de US$ 44 em 2020 e chegou a US$ 70 no ano seguinte. O agravamento do conflito na Rússia já provocou um novo impulso aos preços do insumo, que passam agora dos US$ 100.

A boa notícia é que 2022 vem sendo marcado pelo fortalecendo do real frente ao dólar. E com o petróleo subindo de um lado e o dólar baixando de outro, forma-se uma gangorra que mantém os preços com certa estabilidade.

Bolsa e dólar
Em geral, conflitos geopolíticos provocam reação imediata nos mercados internacionais, mas como as atividades vêm sendo anunciadas desde o fim de 2021, isso pode acabar diluindo o impacto nas Bolsas. É como se o mercado já estivesse se preparando para um evento mais determinante.

Além disso, a bolsa brasileira tem uma participação enorme de empresas exportadoras de commodities, como Vale, Petrobras, Suzano e tantas outras. Um aumento na demanda traria bons resultados e valorizaria os preços dos papéis. Ou não. “Quando se tem um risco global maior, os países emergentes sofrem mais porque o investidor pode buscar uma situação mais confortável em juros dos EUA e da União Europeia. Podemos ter uma nova saída de investidores do Brasil", diz Wagner Parente, da BMJ.

Exportações
A Rússia não é um dos grandes parceiros comerciais do Brasil, não há, portanto, um impacto direto nas exportações brasileiras, mas é fundamental estar atento às reações da China em meio ao aumento das tensões na região porque a China, sim, é o maior parceiro comercial do Brasil e tradicionalmente tem um alinhamento com o governo russo.

"Até o momento, os chineses se mantiveram alheios à situação, mas se formarem uma oposição aos Estados Unidos e Europa, tem-se um cenário de polarização que pode impactar fortemente o Brasil”, avalia Parente.

Na relação direta com a Rússia, o Brasil depende principalmente da produção de fertilizantes (60%) e outros itens ligados à agricultura, em 2021, quatro dos cinco produtos que o Brasil mais comprou dos russos serviam para preparação do solo. Um desabastecimento desses adubos e fertilizantes poderia aumentar os custos dos alimentos por aqui.

“A Rússia é o maior exportador mundial de fertilizantes, o que pode afetar o preço de commodities como a soja e causar impactos na produção de proteína animal”, explica Parente.

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Foto: Pixabay

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