Inadimplência volta ao pico da pandemia, mas motivos do endividamento são outros

13/04/2022
imagem focada na mão de uma pessoa que faz anotações em uma agenda e tem algumas notas de dinheiro por perto, sugerindo contas e endividamento

O nível de inadimplência no Brasil ultrapassou a marca de 65 milhões de pessoas pela primeira vez desde maio de 2020, quando o país e o mundo enfrentavam o auge da primeira onda da pandemia de Covid.

A diferença agora é que, segundo os especialistas, a inadimplência possui traços diferentes. "Nós atingimos um número de pessoas semelhante ao do início da pandemia, mas as causas são outras", explica Patrícia Camillo, gerente da Serasa.

Segundo Patrícia, a escalada da inflação e dos juros justamente por causa da pandemia fizeram com que a inadimplência atingisse agora patamares tão elevados.

Em 17 de junho de 2020, a Selic estava na mínima histórica de 2,25% ao ano, enquanto o índice que mede a inflação, o IPCA, no acumulado de 12 meses era de 2,13%. Atualmente, a taxa básica de juros é de 11,75% ao ano, enquanto a inflação dos últimos 12 meses chegou a 11,30%.

De acordo com Patrícia, apesar de o início da pandemia ter sido muito delicado para a economia, o período contou com incentivos e estímulos governamentais que impediram que os dados fossem ainda piores. Agora, a reabertura dos estabelecimentos e a retirada das restrições contribuem para a retomada da economia, mas reforçam a inadimplência maior em alguns segmentos, como é o caso dos bancos e cartões.

"O segmento dos bancos e dos cartões geralmente registra índices mais elevados de inadimplentes ao comparar com outros setores, mas ultimamente isso está um pouco mais acentuado, pois as pessoas usam muito o cartão para alimentação, bastante impactada pela inflação", diz Patrícia.

O valor total das dívidas também está bem próximo do patamar pré-pandêmico. Em 2019, o valor somado chegava a R$ 230 milhões, mas isso mudou com a chegada do vírus, levando o índice a patamares menores, entre R$ 208 milhões e R$ 210 milhões. No último levantamento, o valor total da dívida chegou a R$ 221 milhões, acima do registrado nos meses anteriores e próximo de números anteriores a 2020.

O economista Gesner Oliveira afirma que as características da inadimplência atual diferem daquelas observadas pelos especialistas durante o primeiro semestre de 2020. "Naquele período houve uma queda súbita na renda da população, na perda de emprego e na retirada de trabalho", diz. "Agora, nós temos uma certa recuperação na economia, ainda muito modesta, mas o que muda é que tivemos também um encarecimento do crédito. Os juros cresceram muito rápido, em nível recorde desde 2021".

Segundo o economista, o principal problema é que a renda e o emprego não acompanharam o aumento dos juros e a renda estagnada faz com que o brasileiro perca o seu poder de compra.

Para Gesner é necessário projetar uma educação financeira mais forte no país, explicar para o tomador de crédito quanto ele está pagando, qual o impacto disso em sua renda e como ele pode contrair dívidas com esses juros.

"A educação financeira é um problema no mundo todo, nós observamos o comportamento dos consumidores nos EUA e o endividamento por imprudência. Existem pessoas marginalizadas que não têm acesso a esse tipo de conhecimento e isso precisa mudar", conclui.

CLIQUE AQUI e leia a matéria completa e original do site CNN Brasil.

➡️ Siga a SHS nas redes sociais - Facebook, Instagram, LinkedIn e TikTok - e inscreva-se no nosso canal no YouTube.

Foto: Pixabay

Siga nossos canais