Geração Z entra de cabeça nas finanças digitais, mas ainda com um pé na poupança e até no colchão

09/06/2022
imagem mostra uma moça de cabelos longos em primeiro plano e um rapaz de camisa azul em segundo plano apontando algo com uma caneta na tela de um notebook

Se você tem mais de 30 anos e se sente um pouco jurássico ao ver o seu amigo de trabalho, muito mais jovem, usando a tecnologia como se tivesse nascido com um tablet na mão, calma, você não está sozinho. Uma ampla pesquisa feita pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), em parceria com o Datafolha, mostra que a Geração Z (entre 16 e 25 anos) marca a virada definitiva das pessoas para os canais digitais financeiros.

Para se ter uma ideia, 40% dos entrevistados nesse intervalo de idade usam os canais digitais (como aplicativos de bancos e corretoras, sites de notícias, fóruns on-line e blogs) pra buscar informações sobre investimentos. O percentual vai caindo à medida que a idade aumenta, entre os Millenials (de 26 a 40 anos), já fica em 32% e entre a Geração X (entre 41 e 60 anos) é menor ainda, 22%.

"Esses números mostram que os bancos têm um desafio e tanto pela frente para atender esse novo público que é muito mais plugado e atualizado", diz Marcelo Billi, superintendente de Comunicação, Certificação e Educação de Investidores da Anbima.

Agora, engana-se quem acha que a entrada dos mais jovens no mundo financeiro e bancário será o fim dos assessores e dos consultores financeiros. "Assim como as outras pessoas, eles precisam de alguém que os aconselhem sobre o que é melhor fazer com o dinheiro. Inclusive, pesquisas nossas já constataram que, quanto mais acesso à informação as pessoas têm (no caso a Geração Z tem muito acesso), mais confusos eles ficam, portanto, mais precisam de um profissional que indique por onde ir", explica Billi.

Inclusive, os gerentes mais assertivos em suas recomendações são os que mais vendem produtos. "Assim como um médico ou um mecânico de carro, investimento é algo bastante técnico para o público em geral e o que a pessoa espera é ter um consultor que entenda muito mais do assunto do que ele e o ajude a tomar a melhor decisão". Vale ressaltar que ser assertivo não é recomendar o produto que é interessante para o banco, mas não se encaixa no perfil do cliente e sim ter a segurança de saber analisar a pessoa e só depois encontrar o investimento que ela de fato deseja ou necessita.

Um pé no risco, outro no porto seguro
Se os mais jovens se sentem seguros o suficiente para resolver a vida financeira nos canais digitais, o mesmo não acontece na prática, em suas carteiras de investimentos. Mesmo antenados e modernos, a pesquisa da Anbima mostra que 14% (o maior percentual) da Geração Z ainda aplica no mais tradicional dos investimentos: a velha poupança.

Contradições à parte, se um pé está no conservadorismo, o outro dessa geração coloca no risco total, com 5% dos entrevistados investindo em criptomoedas. Na visão de Billi, as criptos passam hoje por um fenômeno de manada, que é quando os investidores se sentem compelidos a embarcar de cabeça num determinado ativo pelo simples de ver que outras pessoas estão fazendo o mesmo.

"Não há uma palestra que eu dê hoje em faculdade, por exemplo, e que os estudantes não perguntem sobre criptomoedas", diz. Vale reforçar que, como uma boa "manada", boa parte desses jovens investidores não tem a real noção dos riscos embutidos nas moedas digitais e pode sair bem machucada da montanha-russa que são os preços das criptos.

Mas apesar dos investidores ainda procurarem a poupança, existe um claro movimento de saída de recursos para outros ativos. Outro sinal de amadurecimento é o comportamento dos investidores durante a pandemia, que não saíram correndo para sacar o dinheiro da Bolsa e colocar na primeira Renda Fixa que vissem pela frente, como já aconteceu em outras crises internacionais dessa magnitude.

Uma segunda lição da pandemia é que as pessoas precisam fazer a sua reserva de emergência em momentos tranquilos, para usá-la em mares revoltos como foram os últimos dois anos.

No colchão!
Se você acha que guardar dinheiro embaixo do colchão era coisa do seu avô, que tinha medo do banco sumir com o dinheiro dele ou no máximo do seu pai, com medo de ter suas aplicações confiscadas, ledo engano novamente. 4% dos investidores da Geração Z ouvidos pela pesquisa deixam o dinheiro em casa. Pode parecer pouco, mas é um percentual maior do que a quantidade que aplicam, por exemplo, em fundos ou em ações (ambos com 3%) e em títulos públicos ou privados (ambos com 2%).

Para Billi, esse dinheiro embaixo do colchão pode ser resultado de dois fatores: a falta de acesso que ainda existe aos investimentos e a desconfiança que se tem diante de algo que não se entende. "Ainda há muito que se evoluir no didatismo do setor de investimentos no Brasil, há um longo caminho a percorrer até que todos entendam os ativos e, assim, tenham segurança de escolher o melhor para o seu patrimônio", completa.

Por fim, a pesquisa da Anbima mostra que os bancos tradicionais ainda são a principal referência para a maioria dos investidores, não importando a faixa etária. Os bancões são citados por 45% dos entrevistados, em média, enquanto os bancos digitais por apenas 10% das pessoas ouvidas pela pesquisa.

CLIQUE AQUI, confira a matéria completa e original do site Valor Investe e uma tabela que mostra onde as pessoas investem por faixa etária.

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Foto: aldomurillo (Getty Images para o Canva Pro)

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